"E não maltrate muito a arruda, se lhe nçao cheira a rosas..."

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Conto Virtual

Conto construído em 30/07/2010 após simples inclinações e disposições de duas pessoas na internet. Disposição, viagens e palavras estão presentes. E nada melhor que partir da luta pela conservação do romantismo.

Ana Paula Morais da Silva - Glória
George Diniz Teixeira - Luiz

Intitulei: Acordando sentimentos

Glória: Mas o que de fato queremos expor nas overdoses do pensamento? Se cada louco distribui em partes os pingos que sobraram na noite passada? - Não me devolva as perguntas se elas mesmas não te compõem.
Luiz: Pensamento? São meus lamentos. Mas acertastes numa coisa, sou composto de Dúvida, e bem que gostaria de devolvê-las em perguntas, mas o que procuro jamais encontrarás. E pudesse, elaboraria-te em letras, versos e prosas, só para degustar-te na minha boca...
Glória: E por vezes não estaria trazendo a mim tuas dúvidas, como saber se as tuas me pertencem se não me falas dos desejos, das vozes, das palavras? - Glória remete a Luiz com um olhar inquietante.
Luiz: E a ousadia é tamanha, que já não me perguntas como desejaria chamar-me. Mas me chamas. E me chama tão inquietamente, que minhas dúvidas dissipam-se em desejos incontidos; que posso fazer? Meus desejos não são dúvidas, Glorificante glória... se tu soubesses que teu nome já me incita à perdição, saberias que minhas dúvidas são tuas certezas. Por acaso saberia ela de suas próprias certezas?
Glória: Ah se a glória que me compreende pudesse repousar em suas certezas, estaria ela sim, preenchida de cores, imagens, sentidos... E são teus olhos, Luiz que pertubam minha face, tornando-me semeadora de questões. Por acaso haveria em ti desejos ainda mais pertubadores que estes? 
Luiz: Glória intangível, loucura de todo homem, cegueira que dá n'álma, não saberia o que me perturba, saberia? E, em meio às suas lcubrações, num átimo de pensamento, imaginou ele que poderia, de alguma maneira, ligado à Glória e esta à ele; Sem explicações, não adiantaria... melhor sentir o que no fundo lhe vai dentro, e exprimir o inexprimível à sua glória, que ela dê sentido às suas angustias.
Glória: Mas que loucura tua caberia em mim? Não sabes o que está a flutuar aqui nestes pensamentos, Luiz. Saberia repor todas suas expressões e faria das minhas angústias seus flertes de prazer. Mas não estou comigo sozinha, no momento, carrego outra Glória e esta palpita por intensidade, ludibriações, vertigens... Estaria até nesse segundo, imaginando sua íris e como ela cobriria meu corpo se ao menos em mim, repousasse ainda mais teus olhos.
Luiz: Louca! Louca!
Estás a me ouvir, Glória? Estás a me ouvir? Escute o inaudito, que no meu peito pesa; sorva toda o meu sangue, que pulsa, desenfreadamente, em loucas esperanças de fazer-te me ouvir. Então, saberás que não há loucura maior, que àquela desorientada visão que não te alcança; que absurdo da compreensão seria maior que àquele que de ti não sabe, muito menos se esforça a saber? Antes era possuído pela dúvida, Glória, agora desejo-te sem qualquer possibilidade de desventura; não te desejar é um absurdo só pertinente à linguagem.
Glória: Quantas verdades, caro Luiz, e mesmo sem saber dos absurdos que nos compomos, sinto nossos símbolos formando nossas mentes, por vezes profana. São fases que mostram-me os surtos dos teus pensamentos. Fases de apontar, percorrer e afundar-se em meus declínios, delírios, caminhos... Permita-me dizer que não consigo mais te ver, percebo somente tuas feições, pois você retirou para si, uma janela, deixando cá posto, uma questão, um silêncio, um desejo. Luiz, Luiz! Quanta precisão em fazer-me contar, dos bens, os menores, dos desejos, os mais intrusos. 
Luiz: Maldade sua, Glória. Maldade sua. Depois do esforço por à ti ligar-me; depois de insistir para que me sinta. Agora faz dos meus desejos "os mais intrusos", dos meus bens "os menores", sabendo que nada possuo. Sofro da incurável doença que é o amor, que me confunde, quando o mar é calmaria; me atormenta, quando amar é em si a própria tormenta; me alucina diante da impossibilidade do possível; me atordoa, pois careço ser amado. Antes, como disse, eram dúvidas, agora passo a crer nas minhas palavras... começo a acreditar que o que falo nunca poderia deixar de ser verdade, e acreditar que o que conto, longe de ser um conto, é a mais pura verdade, quando meu mundo é uma fantasia. Amor? Palavra que não se explica. Amo sem condições, quando minha condição é amar sem restrições. Creia-me um homem sem cura, quando você é meu veneno e meu remédio.
Glória: Então, que o veneno sufoque e respingue grito, clamor, piedade, porque nesse momento levarei meu ventre e nele sim, encontrarás a fartura de recomeçar e o desejo de enfim, nos curar. Glória abaixa-se e pega uma pétala branca.
Luiz: A ânsia de pôr um fim, na certeza do infinito, é o instinto feminino em sua mais pura semente. Glória, que em sua mais profunda metáfora, se assemelha a uma rosa, cujo mais saboroso gozo, esconde a dor da angustiante existência.

3 comentários:

  1. Capitu, vc anda encontrando às escondidas o Sr. Mário Quintana sob o pseudônimo de Glória?

    Jo a-mi.

    ResponderExcluir
  2. Jo,confesso encontrar Mário, mas sob Capitu mesmo. Com Glória encontrei Luiz...
    Feliz em te ver por aqui!

    ResponderExcluir

Um beijo pelos dedos que aqui escrevem, um Queijo pelo suspiro aqui postado.