"E não maltrate muito a arruda, se lhe nçao cheira a rosas..."

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Anna e o Livro I

Baseando-se no filme "O livro de cabeceira", de Peter Greenaway - 1996


Contei as horas que restavam. Mas o ponteiro arrastou um oito vagaroso e angustiante pela espera. Não se chocava mais com a luz do poste que formava a sombra. Cabelos longos, corpo magro. Cecília olhava atenta para as mãos, pareciam deslizar de tanta penúria. Ela percebeu, então, que seus olhos não mais fitavam os ponteiros, agora a lua a roubara do tempo. Tempo corrido, tempo de Anna. Apressadamente, como um soluço em plena digestão, pôs-se a andar, era tarde e os pingos já abafavam o chão. Cecília lembrou que deixara seu livro de cabeceira nas mãos de Benício. E não era algo sem valor, pelo contrário, valia tanto quanto suas confissões não-expurgadas. E flutuando contornou a rua, ligeiramente com os cabelos nos olhos, afastando-os para trás. Ela, por um instante, esqueceu da riqueza do tempo, do livre arbítrio de contemplar o infinito. Seguiu seu rumo em busca do livro.


Por: Ana Paula Morais






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