"E não maltrate muito a arruda, se lhe nçao cheira a rosas..."

terça-feira, 29 de maio de 2012

A velha roupa morna

Estava terminando o último gole do jantar, quando senti o sabor salgado chegando à boca. Ainda bem que o café ainda estava quente pra não quebrar o açúcar com o sal. É estranho estar sozinha à mesa. Estou acostumada com palavras saltando aos ouvidos, conversas batidas do cotidiano, risos e falações dos vizinhos. Mas hoje preferi estar sozinha, porém acompanhada de mim, que já estava falando o bastante. Lembrei das épocas da faculdade, dos risos incontáveis com os amigos, das aulas perdidas, hoje lamentadas, dos choros contidos pelo corredor... Imaginei como se cada ato tivesse mudado, nem que fosse um segundo atrasado, poderia ter ao menos me privado de ver as coisas que eu vi, ou de sentir aquelas que presenciei.

 [...]


Mas acabou o café pra continuar a história, a noite fria me aperta o peito, sinto falta de tudo que vivi e sonhei, das chatices que criei e matei. Hoje, queria ao menos largar um sorrisinho de canto, tímido, mas os dentes cerrados me calam a boca. Mas o choro se espalha e molha a roupa.
 Por Ana Paula Morais



Montagem

Hoje eu queria ter um sorriso de um palhaço,
fazer chorar, sorrir em contrários,
pregar uma peça, falar bem da vida,
ter amigos, usar roupas coloridas,
pra disfarçar o peito, a dor nas costas,
o frio da alma.

Ser picareta, fazer pirueta, cair,
embolar, fazer rir até chorar.

Queria bestagem de criança,
correr, pintar o sete,
colorir o asfalto, pra só assim,
apagar as lágrimas que eu senti,
apagar o ser que habita em mim.

Por Ana Paula Morais.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Ser

Ao passo que se angustiava, sorria sem parar. Era a vergonha tomando conta do rosto e travando os dedos. "Como é que pode algo assim tão íntimo revelado sem culpa e sem dor?". Acabar com essa história de gêneros, o gênero aqui é só um: PESSOA! Gente mesmo, sabe? De carne e osso, de amor e de ódio, de hipocrisia e revolta. O que se quer mais da vida? Viver!


Por Ana Paula Morais

sábado, 5 de maio de 2012

A estrada

Dos verdes campos que me perfumam,
Ora secos, ora úmidos,
Veredam por mim com suas angústias,
Trazendo a mim pequena infortúnia.

No que me acompanho, esmoeço,
Pois no seu tamanho, as vistas enfraquecem,
E adormeço sonhando teus fortes ventos.

E que longas estradas passo a namorar,
Enquanto elas sorrindo, me acalmam a viajar.
No caminho ao meio suo a tua jornada,
fechando os olhos aqui, acolá...

[Não temas, menina, estás a chegar,
seguro tua mão e respondo o que assuntar,
sou longa, sou curta, basta rabiscar.

Agora, porém, tu vais a desembarque,
Te digo, também, não te esqueças de cá,
depois os segredos que guardo no tempo,
aos poucos, comigo, vão se revelar...]

De olhos abertos,
Agora no chão,
Mal posso sentir,
Parei na contramão.

Por: Ana Paula Morais