Eu gostaria
Eu
bem gostaria de desentender a solidão, partindo do que há de mais
complexo em ser humano. Isso porque o que afirmamos diariamente com bons
modos, respeito, educação, cai por terra na falta de ouvidos, olhos ou
faces remendadas. Essa tal solidão fixada na mente, não desaparece, ora
pois, no meio desses ouvidos, olhos ou faces remendadas.
Eu gostaria que essa farsa de sentimentalismo e companheirismo contínuo desabrochasse sem utilizar como predisposição o outro.
Eu gostaria de desentender essa mera importância do outro em nós. Essa
necessidade de preenchimento, espontaneidade que nos colocam para
expormos nossas babaquices e crendices.
Eu gostaria de desentender o constante sofrimento alheio, o vazio que
carregam consigo por seu anseio de amor, de amar, de se amar.
Eu gostaria de idealizar o amor, trazendo sua forma não aceita, bruta,
concreta. Isso me traria angústias menores, entregas às cegas e a morte
do sensato.
Eu gostaria de desentender, mais ainda, aquilo que
teimo estar. Porque só assim, não haveria culpa, mal estar ou
arrependimentos. Haveria espaço para o real, para nosso núcleo e voz
insconsciente. Dizem que é fundamental nosso auto-conhecimento, mas
acredito que é mais doloroso do que a arquitetura da nossa felicidade.
Eu gostaria, pois, de desentender tudo que listei, mas acontece que fui
treinada desde a infância a pensar nos outros antes de mim.
Ana Paula Morais
Hora do almoço e eu aki alimentando-me de seus textos...degustáveis e saborosos textos. xeeero
ResponderExcluirObrigada, Oceano. Seja bem-vindo!
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