Era por volta das 6 e 40 da manhã, quando o sol frio
aparecia mansinho na fila de consulta. Não tinha mais que oito pessoas ali.
Cada qual carregando seus papéis e suas dúvidas. Duas senhoras e um senhor
juntaram-se a mim. Não entendi, uma vez que meu silêncio causava espanto a
eles. Talvez essa tenha sido a atração.
Um senhor se aproxima e diz que operou o joelho faz um mês e
que tinha ficado menor que o outro. Segundo o médico - assim, ele narrou -, era
normal. Uma outra senhora diz que veio para o retorno da cirurgia do segundo
joelho. E eu, ali calada, respondi quando questionada: "Estou guardando a
vaga para o meu pai enquanto ele tira o raio-x". No entanto, uma outra
senhora que estava próxima, só observava e segurava uma sacolinha com papéis.
Não parecia estar afim de conversa. Ainda assim, o senhor se aproximou:
- A senhora vai pra qual médico? - perguntou ele.
- Eu não sei não. - respondeu meio ríspida a senhora.
- Oxe, comé que a senhora num sabe o nome do médico? -
questionou o senhor um tanto inconveniente.
- Oxe e porque eu tenho que saber? Eu marquei a consulta.
Quem tem que saber o meu nome é a mulé que me atendeu.
- Mas a senhora num perguntou não? Pegou nenhum papel? -
indaga o senhor ainda inconformado.
- Eu não. Eu liguei pra cá. Eu marquei por telefone. Como é
que eu ia ter um papel? - responde a senhora já irritada.
- Num é mulé? Pra quê? - pergunta se dirigindo a uma
outra mulher ao seu lado.
- É, mulher. Eles tem lá anotado.
O silêncio percorre entre eles por uns 40 segundos. Mas a
dúvida teria que ser sanada.
- Mas é medico de quê, senhora? - pergunta, curiosa.
- É médico de cabeça.
- Ahhh...
E o silêncio se instala.
Por Ana Paula Morais
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