"E não maltrate muito a arruda, se lhe nçao cheira a rosas..."

quarta-feira, 14 de março de 2012

"Hilda", de Cida Pedrosa.

Olá, queridos leitores. Segue o vídeo do poema "Hilda", de Cida Pedrosa, recitado por mim no Recital de Poesias da Uneal em 13/03/12. O recital contou com alunos da Uneal e Ufal sob a organização do professor e poeta Luciano José. 

"Hilda gosta de fazer sexo de manhã,
antes de encarar a ordem do dia
e o ônibus rio doce-piedade.

Entre um ofício e outro
faz a pesquisa na internet
e lê aquele e-mailzinho sacana
sobre os efeitos milagrosos dos florais.

(a dor não precisa mais dos jornais
e o filme francês é lento para este tempo de baladas,
o ascensorista tava com cara de pagode e pouco sexo
e  secretária do diretor se pôs de luvas para o dia)

Hilda gosta de fazer sexo de manhã
e de dar bom dia ao chefe
com seu homem liquefeito na calcinha".

Cida Pedrosa.


domingo, 11 de março de 2012

Poetas

Por hoje, limitei-me a pensar Florbela Espanca, essa poetisa mágica e mulher intensa da alma. A vocês, queridos leitores, poesias dessa mística e admirável ser retiradas do livro Poemas de Florbela Espanca, edição de Maria Lúcia Dal Farra. São Paulo:1996. (presente de um amigo estimável Jalon Nunes)


Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.


Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!


Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas


E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbela Espanca

Confissão

Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh’alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!
……………………………………………………..
Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…

Florbela Espanca 

 

Desejo

Quero-te ao pé de mim na hora de morrer.
Quero, ao partir, levar-te, todo suavidade,
Ó doce olhar de sonho, ó vida dum viver
Amortalhado sempre à luz duma saudade!

Quero-te junto a mim quando o meu rosto branco
Se ungir da palidez sinistra do não ser,
E quero ainda, amor, no meu supremo arranco
Sentir junto ao meu seio teu coração bater!

Que seja a tua mão tão branda como a neve
Que feche o meu olhar numa carícia leve
Num perpassar de pétala de lis…

Que seja a tua boca rubra como o sangue
Que feche a minha boca, a minha boca exangue!…
………………………………………….
Ah, venha a morte já que eu morrerei feliz!…

Florbela Espanca

 

Aos olhos dele

Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa,
Pelo azul do ar. E assim fugiram o
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor…
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m’encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!

Florbela Espanca


Verdades Cruéis

Acreditar em mulheres
É coisa que ninguém faz;
Tudo quanto amor constrói
A inconstância desfaz.

Hoje amam, amanhã esquecem,
Oras dores, oras alegrias;
E o seu eternamente
Dura sempre uns oito dias!…

Li um dia, não sei onde,
Que em todos os namorados
Uns amam muito, e os outros
Contentam-se em ser amados.

Fico a cismar pensativa
Neste mintério encantado...
Digo pra mim: de nós dois
Quem ama e quem é amado?

Florbela Espanca