"E não maltrate muito a arruda, se lhe nçao cheira a rosas..."

sábado, 18 de dezembro de 2010

Anna e o Livro III

Mas por um momento a chuva cessa. Acabou o momento místico dela cair por terra? "Não", responde para si Anna, as coisas boas guardamos consigo por mais que elas terminem, de alguma forma permanecerão listadas em mentes, coração ou livros. E assim, segue a vida. Cecília ainda se perde em querer manter a cordialidade ou em querer partir à clandestinidade. Às vezes, por falta de norte, redirecionamos os passos ou perdemos os rumos. É que o mais fácil acabamos acostumando, esquecendo que o difícil, este é que nos merece, nos cicatriza. E os passos vão se findando atentamente. Anna parece já esquecer os desdéns que tivera, coloca-se agora em provação. Eis o lamento do querer: tentar idealizar o corpo que te satisfaz ou fazer de um corpo que te atrai, o livro escrito, por vezes lido?


E Anna continua a pensar. Sentada sobre o jardim de Irineu. E quase em deleite, ouve uma voz. Mais uma vez, a consciência em seu ombro a descansar.



Por: Ana Paula Morais

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Anna e o Livro II

"Benício talvez nem saiba o que guarda o livro!", pensei enquanto andava sob a chuva. E que ousadia a minha em escrever um livro. Mas as listas nem estão completas, para que preocupar-me tanto com ele? É bom certificar que o coração está camuflado de pensamentos listados, coerentes ou não, ao menos para mim. 


- "Benício!" - Anna aumenta o tom para chamá-lo.



Anna educadamente pega seu livro agradecendo a Benício. Ele já esperava por ela. Parecia já entender o sacrifício daquela escrita sigilosa. Encosta o livro entre os seios e abraça-os protegendo da chuva. Mas o desafio parecia continuar. Anna está entre constelações e enredos em sua mente. Cores e sons ressoando em seu corpo. Ela acaba de perceber que, listado agora estará: Andar sob a chuva.


Por: Ana Paula Morais

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Anna e o Livro I

Baseando-se no filme "O livro de cabeceira", de Peter Greenaway - 1996


Contei as horas que restavam. Mas o ponteiro arrastou um oito vagaroso e angustiante pela espera. Não se chocava mais com a luz do poste que formava a sombra. Cabelos longos, corpo magro. Cecília olhava atenta para as mãos, pareciam deslizar de tanta penúria. Ela percebeu, então, que seus olhos não mais fitavam os ponteiros, agora a lua a roubara do tempo. Tempo corrido, tempo de Anna. Apressadamente, como um soluço em plena digestão, pôs-se a andar, era tarde e os pingos já abafavam o chão. Cecília lembrou que deixara seu livro de cabeceira nas mãos de Benício. E não era algo sem valor, pelo contrário, valia tanto quanto suas confissões não-expurgadas. E flutuando contornou a rua, ligeiramente com os cabelos nos olhos, afastando-os para trás. Ela, por um instante, esqueceu da riqueza do tempo, do livre arbítrio de contemplar o infinito. Seguiu seu rumo em busca do livro.


Por: Ana Paula Morais






domingo, 12 de dezembro de 2010

Refrescância Íntima

É latente, navegante em teu compasso,
Firme e doce, envolvente em teus encantos.
Tão despida, vive alegre seus limites,
Que arranha com fúria os lábios quentes.

Obtusa e tão fraca, alarmante,
Que invade, treme e chora esvoaçante.
Tão viva sente o desejo leve e quente,
Que nos teus braços, prende e cospe de repente.

A bela forma do teu corpo envolvente,
Expele e sangra em favos inconstantes.
Tão fina pele me envolve entre os dentes,
Que me amarro, lambo e prezo deslizante.

Na calmaria do teu beijo sufocante,
Espalho e prendo alegrias ofegantes.
Em tua alma estarei tão livremente,
Que no teu corpo entrarei eternamente.


Por: Ana Paula Morais

Provocante Desejo

A indecência, incessante olhar a fim,
Percorrente beleza pura, ironia sem moldura.
Fluorescente poesia em meio ao serafim,
Banhada de fúria, sucumbida em ternura.


Corrompido olhar distante, sem fim,
Tão forte sabor preso, uma tortura.
Elevante gozo estremece em mim,
Provoca-me cio tão precisa doçura.


Lastimável consequência inata,
Pressentida nos encantos em ter,
Causadora insana do primor.


Salivante, sem culpa, insensata,
Esquecida dos poderes do ser,
Doce ventre, borboletas sem amor.
(01/08/08)


Por: Ana Paula Morais

Cruel em seus sentidos

O verdadeiro infiel é aquele que só faz amor com uma fração de ti. 


 E nega o resto.

Anaïs Nin

domingo, 5 de dezembro de 2010

Penas

A quem eu me refiro? A luta insana diária que sou escrava do nosso prazer ou a sina de uma vida ludibriada sem emoção? 



A gente escolhe. 
A gente rejeita.

Significar

Partir de uma interrogação pode sugerir "n" significados e desencontrar várias respostas. Partir, hoje, do vir-a-ser, pode se ser um estrago concedido ou uma alforria estabelecida. Na verdade, quando nos relacionamos com outrem, em qualquer que seja o grau da aproximação, mostramos o que naquele momento tem e pode ser compartilhado. Mas, com o tempo, analisando as estratégias e descaminhos traçados em um relacionamento, percebemos com mais exatidão, os traços enlinhados que findaram ou fortaleceram tal relação. Ouvir do outro acaba sendo ouvir nossa voz com mais serenidade, e talvez, sinceridade. Para se findar um relacionamento, é necessário autenticidade em reconhecer os fatos e responsabilidade para assumir outros. Deixar-se ouvir pode ser das formas mais sutis de se expor, porém, sugere fraqueza em não aceitar. Isso porque, partindo da simplicidade, verifica-se que simplicidade aqui não está em como se faz, e sim, com que sentido buscamos fazer. É preciso suscitar a glória das palavras e do discernimento para não escapar os desejos e o bom senso. Segue seus passos com a roupa que escolhestes, para que no fim, ao menos o teu corpo ainda esteja coberto, de caminhos ou de desertos.


Por: Ana Paula Morais

sábado, 4 de dezembro de 2010

"cai na tua teia...

...serei a tua ceia", já dizia Raul Seixas. Invariavelmente, os corpos sugam um espaço e se deleitam sobre este com repouso e excitação. Nas verrugas temperamentais se auxiliam e compartilham ideias, vozes, sussurros e alterações das mais variadas. Os seios em extrema elevação. É o corpo que me cobre. É o desejo que me preenche. É incompreender a causalidade de estar e assim estando permanecer na oscilação, nas consoantes e vogais que me deixa escutar.
Som ressonantes...


Por: Ana Paula Morais

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O vento...

traz cada lembrança pequena e fantástica. Cada detalhe intenso e firme. É como uma cicatriz que pode durar a eternidade ou somente uns anos, mas lembramos exatamente como e quando aconteceu. E são esses ventos que retornam a mim hoje, com cicatrizes. Mas, por alguns segundos a mastigo e por tantos outros escapa à minha mão. Deixo novas cicatrizes  o vento me presentear, e nestas, diferente das outras, posso escolher a melhor forma pra cicatrizar.

Por: Ana Paula Morais

mas o estrago que faz a vida é curta pra ver ♪